sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

solidão, cansaço, desistência!!! num chão de giz



Karl Barth falava da “solidão” de gente que assumia ministérios na teologia. Lembro-me que esse foi um dos textos mais “pesados” para mim, no início dos estudos. Talvez por isso eu goste de casa cheia, de gente chegando e conversando.

Essas conversas entre colegas, especialmente, dificilmente são “datadas e fotografadas”. As lembranças que ficam, são afetivas, deixam questionamentos nem sempre duradouros:

Eu desço dessa solidão
Espalho coisas sobre
Um Chão de Giz

As conversas refletem cotidianos e notícias, experiências e expectativas.

Há meros devaneios tolos
A me torturar
Fotografias recortadas
Em jornais de folhas
Amiúde

No “mundo” teológico há sempre denúncias. A gente precisa disso para vivenciar na atualidade, os textos bíblicos, os contextos, a poesia e a prosa. Assim como na Bíblia, às vezes nossas palavras são violentas. Assim como na Bíblia, se elaboram termos nem sempre pacíficos, nem sempre dignos. E também, assim como na Bíblia, se percebe sempre sob o domínio de quem se está, quais são os poderes que matam, que excluem, que sufocam gente e natureza...

Disparo balas de canhão
É inútil, pois existe
Um grão-vizir
Há tantas violetas velhas
Sem um colibri

Des-cobrir os quem nos domina nem sempre é fácil. Parece ser mais fácil nominar os “Poncio Pilatos”, a perceber o todo do império, e das leis de nossos relacionamentos. Às vezes, as conversas conduzem a atitudes. Nem sempre transformadoras, é verdade. Elas voltam, tantas vezes, ao mundo longínquo de nossos ideais, de nossos refúgios. O humor pode ajudar a não levar a sério tanta coisa que nos deprime.

Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes
Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes...

Pode parecer que tudo se resuma a alegria, abraços e cafés. Nosso desejo por transformação se mistura em desejo por poder, ou só por usufruir do tal “gozo”  que tantas vezes anunciamos.

Queria usar quem sabe
Uma camisa de força
Ou de Vênus


Mas não vou gozar de nós
Apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom...

Só que vejo certa retenção na alegria. Como se, diante de tantas coisas que deram errado, vamos tomando ciência de que tudo é uma perda de tempo, de alegria, de vida.

E vamos a outras paróquias, a outros campos de trabalho. Fome nova! Encaramos de frente nossos medos, nossos traumas e... vida renovada!

Agora pego
Um caminhão na lona
Vou a nocaute outra vez
Prá sempre fui acorrentado
No seu calcanhar
Meus vinte anos de "boy"
That's over, baby!
Freud explica...

Será mesmo que “Freud explica” essa nossa desarticulação, essas nossas quedas constantes nas lonas. Que psicologia é essa que não conseguimos nos “erigir” de forma “contundente “ (ui, quanta fala masculina) e viramos “boy”, gente mandada daqui e dali... gente que não cresce!

Quanto ao pano dos confetes
Já passou meu carnaval

E tudo volta ao desencaminhamento de nossas conversas, tudo volta ao trocadilho infame, a palavras que por si só provocam riso

E isso explica porque o sexo
É assunto popular...

E percebo aos poucos algumas de nós desistindo. Como se fosse possível passar a “vocação” adiante, como se fosse possível “sacudir sandálias” do ministério – e não dos campos de trabalho...

No mais estou indo embora!
No mais estou indo embora!
No mais estou indo embora!
No mais!...




Margarete Engelbrecht - Niterói RJ

“Este negócio de pastoras ainda não tá dando certo”




Quando cheguei em Ivoti, para o “Exame de seleção” ao final do ano de 1975, de cara encontrei a Sílvia na fila de espera. Seríamos chamadas a qualquer momento. 
Ela dizia de cabeça erguida:
-  Eu vou ser pastora. Vou cursar o IPT (Instituto Pré Teológico).

Eu expliquei para ela que eu antes faria o  curso para professora catequista e depois eu faria a Faculdade de Teologia. Eu disse que este era o conselho de um pastor que tinha dito que “este negócio de pastoras ainda não tá dando certo”.

Na sala do “Exame”, os professores me garantiram que “esse negócio de pastoras estava dando certo, sim” e que eu tinha mesmo a vocação para ser pastora. Saí da sala com o coração batendo mais forte do que nunca e no corredor encontrei não só a Sílvia, mas também a Marli, ambas felizes, na certeza de estarmos iniciando um bom período de convivência. 

No início de 1976, iniciamos no IPT o primeiro ano do Ensino Médio como se diz hoje. Éramos as únicas meninas da turma. Nos juntamos a outras que estavam já no segundo ano, quatro delas que passaram a morar com a gente. Eram  Loraci Kopp, Leni Schneider, Merlinde Naue e Hildegard Stumm (esta lamentavelmente já falecida).

Nós,  “as sete meninas do Prô”,  passamos a morar no segundo piso daquela casa em frente ao portão principal do então prédio do IPT. Carlos Möller morava no térreo, cuja esposa Cláudia passou a ser também nossa amiga.

Eu desafio minhas outras companheiras a escreverem relatos sobre aqueles dois anos que moramos juntas. Quero inclusive desafiar aquelas companheiras que decidiram não entrar na faculdade de Teologia, nos falando dos seus motivos.

Para finalizar, eu lembro que este foi o ano de 1976, ano em que Rita Panke conclui o Bacharelado em Teologia na Faculdade de Teologia, hoje EST.
 Louraini Christmann, Lola, Horizontina

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Pinheirinho de Natal


Minha filha, é isto que queres ser?



Minha mãe e eu sabíamos que minha identificação com as pessoas pobres e sofridas se daria nos caminhos da IECLB. Mas como eu não me imaginava nem como professora catequista, nem como diaconisa, que eram as possibilidades que víamos, e como eu era uma menina,  estávamos numa encruzilhada.

Um dia minha mãe e meu pai voltaram da cidade e minha mãe veio gritando de longe, erguendo o Jornal Evangélico, dizendo:

- Minha filha, é isto que queres ser?
- É!

Era a foto da Pastora Rita Panke estampada na capa do Jornal Evangélico. Não tivemos mais dúvidas. O coração da minha mãe e  o meu dispararam de alegria, porque a nossa IECLB estava começando a se abrir para o ministério pastoral de mulheres. Meu pai, minha irmã e meu irmão igualmente vibraram com a gente, passando a fazer tudo para que tudo desse certo.

Após o próximo culto na comunidade, numa conversa linda que sempre tivemos com parentes em frente da igreja, o assunto foi este. O Pastor Bruno estava com a gente e me garantiu que faria tudo para me apoiar. Ele disse ainda que tinha certeza que “esta menina tem vocação para ser pastora”, o que encheu os olhos do meu pai de lágrimas. E minha mãe disse apenas:

- Eu sei, Pastor. Eu também tenho certeza disso.

Louraini Christmann, Lola, Horizontina.


Natal


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Estudo? Diferença?

           Sempre fui muito devagar diante de críticas e depreciações. De certa forma, é uma ferramenta boa para que eu não perceba o escárnio, e a má recepção que existem nas relações.
           Na primeira "Conferência Pastoral" (termo que eu havia aprendido no Distrito Uruguai, lugar de meu estágio, cheio de pastoras que mexiam na linguagem) fui alertada que ali era "conferência de pastores". Era uma "PfarrConferenz" - PC - o que brincava com o termo "Partido Comunista" e trazia lembranças de gente que havia brigado contra a ditadura.
            Ok, isso parecia ser importante e achei legal a definição política da colegada.
            Só que, quando iam falar nas comunidades, a brincadeira era desfeita, e era dito com todas as letras que as reuniões eram "Conferências de Pastores".

             Riso engolido, minha fala também, já que nem de longe me incluíam na definição das reuniões.


Ao mesmo tempo que me queria reconhecida, me sentia traidora explícita das esposas de pastores, que haviam assumido a missão de "Fraupfarrer" nas comunidades, eram chamadas de pastoras algumas vezes, e eu ali... querendo ser diferente delas... de mulheres que acreditavam na mesma missão que eu... de mulheres que tinham uma perspectiva de trabalho semelhante ao que eu havia construído: convivência, testemunho, confissão de fé no cotidiano.
           De certa forma, conhecer essas "Fraupfarrer's" me ajudou a construir um pastorado muito mais dialogal, muito menos detentor de poder - coisa que eu também tinha conhecido em outras "esposas de pastores" que gostavam de ostentar um status quo que eu nunca entendi de onde viera.

Margarete Emma Engelbrecht , hoje em Niterói, RJ - pastora



quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Pedacinhos da Teologia de Libertação desafiando a menina Louraini nos anos 70


Nossa família participava regularmente das celebrações da comunidade. Era no período em que meu irmão Lauri e eu (somos gêmeos) participávamos no Ensino Confirmatório.

As palavras do Pastor Bruno Gottwald me desafiavam demais. Ele era simples e direto. Usava simbologia, desenhos, histórias e canções novas que eu amava.

Na sua pregação, referia-se muito ao povo sofrido de Deus lá nos tempos bíblicos e aqui no nosso tempo. Lembro que ele citava exemplos vindos da Comunidade de Mambuca, uma comunidade sofrida do interior e de um lugar que era popularmente chamado de Campina, lugar que na época sobrava para quem não tinha outro lugar. Havia muito preconceito.

Eu queria poder fazer algo. O desafio do Pastor Bruno mexia demais comigo. E minha mãe e eu sabíamos que este fazer algo seria por dentro da igreja. Ela me perguntava:

- Tu quer ser catequista?
- Acho que não, mãe!
- Tu quer ser diaconisa?
- Acho que não, mãe!
- O Lauri é pra ser pastor.
- Ah, pois é, mãe, que pena que também não sou guri!
- É, que pena!

Louraini Christmann, Lola, Horizontina